O taralhão
Estamos em Setembro e os taralhões chegaram.
O taralhão é uma pequena ave migratória oriunda do norte de África que nos visita todos os anos por esta altura. É de porte idêntico ao vulgar pardal mas menos agitada que este.
A sua chegada é confundida com a partida das andorinhas que, após da sua pro criação, regressam aos ares de Africanos.
“No final do verão quando os taralhões que vinham do norte de África para a Europa, e se cruzavam nos céus com as andorinhas em sentido contrário, os taralhões diziam:
- Eh, andorinhas putas, foram poucas e vieram muitas.
E as andorinhas responderam:
- E vocês, taralhões loucos que vão muitos e virão poucos.”
Devendo-se ao facto dos taralhões serem caçados e as andorinhas não. As andorinhas são umas aves quase domésticas, fazem criação, são pequenas, por isso não têm que comer, enquanto o taralhão é maiorzito e normalmente gordo, logo, depois de depenado e frito, dá um óptimo petisco.
Com o advento dos primeiros chuviscos de Setembro, os formigueiros agitam-se e as formigas de asa (agúdias) saem para fora. Em paralelo, com o amadurecer do milho, os canudos deste cereal ficam suculentos onde se desenvolvem alguns “carneiros” (vermes) brancos.
A agúdia
Eis que criadas as condições ideais de base à alimentação dos taralhões.
Mediante tal conjuntura, começa então a caçada a este pássaro sazonal.
A caçada começa a ser preparada na tarde do dia anterior com a recolha da bicharada (já referida) que servirá de isco aos ditos mas também à limpeza dos costis. Nestes, são testadas as molas que, por vezes, têm de ser oleadas com um fio de azeite. As articulações em arame também são revistas a fim de facilitar o “tchiquelho” do costil.
O costil
Eis que a manhã do dia derradeiro chega. A alvorada tem de ser dada bem cedo para que os costis sejam armados antes que os pássaros acordarem e se movimentem à procura do seu alimento matinal.
Antes de armar os ditos, é necessário escolher os melhores “pichos” (lugares onde será provável o pouso habitual dos pássaros). Escolhidos os mesmos, chega a hora da armação.
São preparados então os “armadouros” (local terreno onde são colocados os costis). Num montinho de terra, com uma inclinação tal que fosse bem visível do alto dos ramos das árvores escolhidas como “pichos” mas cobertos com uma leve camada de terra movida de novo, com a formiga de asas ou carneiro, bem vigorosos, a mexer na ponta do araminho que prende a mola; e é vê-los em voo picado precipitarem-se, directamente do ramo para o costil, de onde só saíam, obviamente, para as mãos do “caçador”.
O armadouro
Normalmente a caçada leva a manhã toda. A volta aos costis armados é sempre muito importante. Pois se lá caiu um taralhão, deveremos preparar de imediato nova caçada nesse local e através do mesmo engenho, retirando essa “baixa” e colocar novo isco.
Acabada a manhã, o que tinha de “cair”, já caiu. Pela hora de mais calor, os pássaros eixam de ser mais activos e por isso, a probabilidade de os caçar, é menor.
Está na altura de levantar os costis. Entretanto, são horas de almoço.
Chegados a casa, contam-se os pássaros caçados. Nesta altura, a maioria são taralhões. Se bem que alguns piscos também são apanhados.
Após depenados, e preparados devidamente com um dente de alho e azeite, são fritos e assim, a acompanhar, se bebe um copito daquele que faz rir.
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