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Lisboa, 25 de Abril de 1974 |
Quando se deu o 25 de Abril de
1974, tinha eu cerca de 6 meses de vida e portanto, encontrava-me recatado em
casa na companhia da minha mãe. A minha avó paterna morrera entretanto por
esses dias e, portanto, viviam-se dias de luto.
Conta a minha mãe que a manhã do dia
25 desse ano, foi uma manhã relativamente agitada. A população saiu á rua graças
ás vozes da rádio que se fazia ouvir. O medo instalou-se sem se saber bem como,
e o seu porquê. Algo teria acontecido bem longe da pacatez, lá para os lados da
capital chamada Lisboa. Ao mesmo tempo, o sentimento era de paz pois os mais chegados
(entenda-se, familiares mais próximos), encontrariam por perto.
O meu pai, na altura, prestava serviço
militar. Estava com licença de férias por uma semana. Havia necessidade de
alimentar uma família e por isso, aproveitava os dias de licença para lavrar
terras do meu avô a troco de algum dinheiro que lhe era dado ao final do dia de
trabalho.
Minha mãe, essa grande mulher e
de garra, mediante tal agitação socialmente estranha, pegou-me ao colo e, dirigiu-se
à casa dos meus avós onde estaria o meu pai que, após ter-lhe contado o
sucedido, acalmou-a.
No final do dia e de regresso a
cada, os comportamentos sociais estavam apaziguados como se nada se tivesse
passado.
Este é o relato que consigo dos
meus pais e relativo ao dia tão importante que foi para Portugal, em 25 de
Abril de 1974 em Louriçal do Campo.
Agora com quase 42 anos de idade e
41 de liberdade, olho em frente e vejo um vazio que me atormenta cada dia que
passa. Uma incerteza que paira no ar sem qualquer esperança futura. Uma vida intitulava
no “day by day” sem quaisquer planos futuros porque, até esses já mos roubaram.
Tanto como tantos, tenho uma família
em que aposto diariamente mas que me impossibilitam de planear o seu futuro.
Desacreditei na esperança dos governantes deste pseudo-país que tão pequeno, e
que ninguém quer saber (…). Olho em meu redor e vejo um desgoverno querendo
governar mas também outros corruptos que já nem sei a cor do seu colarinho.
Deixei de acreditar em tudo e em todos. Vivo um dia de cada vez (…).
Viva a liberdade ou pelo menos, a
liberdade de expressão. Essa sim, agradeço-a a todos os que por ela lutaram.
Bem-haja e votos de um feliz dia
da liberdade. Viva o 25 de Abril.
xxcucoxx