Madeiro do Ano de 2012
Não há terra nas Beiras que se
prese, que na noite da consoada não se acenda o Madeiro. Louriçal do Campo não
é excepção e o adro da Igreja Matriz é palco, em todos os anos, desta tão
afincada tradição natalícia.
O Madeiro é uma enorme fogueira
que os rapazes da terra “constroem” no adro da Igreja. Tão grande que, apesar
do frio da noite, mantém-se aceso pelos dias que se seguem. Diz a tradição que esta
fogueira é para aquecer o Menino Jesus e os que vão à Missa do Galo e, por esta
razão, se acende na noite de Natal.
Madeiro do Ano de 2012
É ateado por volta das 20 horas,
antes da ceia de Natal. Assim, por entre brindes e abraços, trocam-se os
tradicionais votos de Boas Festas.
Há mesmo quem diga “Natal sem Madeiro, não é Natal”. E, por
isso, antes da ceia e pela noite dentro, poucos são os que resistem a uma
passagem pelo Madeiro de Natal.
“Dizem” os livros que, em
Louriçal do Campo, o Madeiro deveria ser roubado. Para que não se soubesse quem
o roubou, as vacas que puxavam o carro deveriam ser cobertas por mantas e os
homens encapuçados. Ao atravessar a povoação, os homens já munidos de pedras, atiravam-nas
aos mais curiosos que espreitassem às janelas.
Em tom de conversa, um ilustre e
respeitado conterrâneo de 63 anos de idade, relatou como foi no seu ano de
mocidade, a recolha do Madeiro.
“Foi
duro!! Não éramos mais que 8 rapazotes com idades compreendidas entre os 18 e
19 anos. Falámos de véspera com o Sr. António Gil da Marrada, para que nos emprestasse
o seu carro de vacas e, nesse mesmo dia, fomos também pedir autorização ao
proprietário dos carvalhos, eucaliptos e pinheiros a cortar na noite a
combinar. Estes eram identificados e marcados no local pelo seu proprietário.
Já
com as referidas autorizações e à meia-noite do dia combinado, pegámos no carro
de vacas e fomos em direcção à Tapada Nova. Um lugar que, na altura, era da
pertença das “Senhoras do Dr. Ramos Preto” (entenda-se, propriedade da família Dr.
Ramos Preto). E, lá fomos nós!
Chegados ao
local, preparámos as duas serras que tínhamos. Eram lâminas de dois metros de
comprimento e vinte centímetros de altura.
As horas
batiam na torre da Igreja, mas nunca a nosso favor! Não havia tempo a perder...
Munidos de
vinho, toucinho e azeitonas, quando nos dava a fome, era o que comíamos.
Estava uma
noite fria, mas nós tínhamos que fazer, pelo menos, o mesmo que os do ano
passado para não ficarmos em mal. Por isso, carregámos mais uns troncos e
fizemo-nos à estrada. O carro de vacas não podia trazer mais. A noite escura
levava-nos em direcção ao cruzamento do Colégio de S. Fiel e, depois, era
sempre a descer. Dois de nós tomavam a rédea do carro ocupando, assim, o lugar
das vacas, e os restantes empurravam. Chegados a esse cruzamento, a descida
para a aldeia tornou-se complicada, mas valeram-nos os travões do carro de
vacas.
Já no adro da
Igreja, começávamos a “amontoar” os troncos que, então, tínhamos conseguido. O
cansaço era notável, mas vá lá que não houve nenhum azar!
Hoje, os
tempos são outros. A malta não tem jeito para estas coisas. Por isso, o Madeiro
é cortado durante o dia, carregado por tractores e, até mesmo, composto no
local por máquinas de grande porte. Vejam só!!!”.
Os tempos passam e as tradições vão
sendo ajustadas aos tempos modernos.
Contudo, continua a ser, sem
dúvida, um dos mais belos momentos da noite de Natal nas nossas aldeias.
Por este ano, e tal como manda a
tradição, o Madeiro já se encontra no local habitual. Foi colocado pelos mais
novos no dia 8 de Dezembro.
Desta forma, cabe-nos contribuir
com a presença, confraternizando, entre amigos e familiares que, só nestes
locais mágicos, se conseguem viver.
xxcucoxx